23.5.17

"cornell"



tu davas aula às almas
mais perenes do falho
gigante que arremessa
na sombra de um triz
a escolha do amigo mau
numa valsa envelhecida
e sabias como ser uma
espécie de carlos santa-         
na tábua de nossa fera,
tuas madeixas jesuítas
o teu bigode chicano ao
piscar os olhos pelo limo.

pirata não eras, quando
muito não tiveste grana
a não ser a calça semibeg
e o bafo matinal tão típico
dos que são muito bonitos
e, simpáticos, casam-se,
morrem-se do núcleo
de fundar um novo tipo
de tristeza para poucos
desse encontro com tudo.

e nem sabes se mulher,
nem mãe de cujo nome
roubaste, na ausência
meu ódio pelo menor,
por ti que enforcarias
meu sonho mais velho,
pelo mais congregador,
o menos amado e tão
sempre antitalentoso
quanto o vibrato que,
menor que dylan menor
que bowie menos que
cobain menor que nós
estamos piores tão bem.

você era o mais bonito,
o menos interessante
porque você havia trocado
o nome de casamento
de sua mãe com seu pai
e tinha formado o próprio
nome: cornell, nada mais.

era apenas tua voz, era voz
a maior voz da necessidade,
bom amigo e o mais lindo...
com cinto não se faz morte,
não é possível com tamanha
invocação de todos nós tão sós,
menos interessante o que, grave,
pode morrer mas não saberíamos
viver se não fosse com a delicadeza
do agudo mais rouco do grunge,
amigo de todos inimigos cariocas,
dói tu, grunge, e dói a tua mãe
viciada em homens rejeitados
como todos nós e a nossa mais
pura tristeza e por um fio nas
ombreiras das formas d’afeição.

aqui estou contigo e é preciso
fingir que amo lou, dave, cohen
para ser contigo ou seja flanco,
uma pessoa que sonha e morre
e não dá a não ser o movimento
pálido de uma saída pela tangente
que é coisa abominável, chris, vês?
tu sabes muito bem a alegria clara
que era meu jogo de bafo, eu tava
na jogada da janela e eu nem sabia
que todo mundo sem mim no teu
bigode ralo de carlos santana novo,
tua síndrome de “quero estar bem
perto e nunca longe de você, chris”,
mesmo tendo vivido sem isso, você,
sem saber que é minha voz na torre
órfã de toda brutalidade viva
do amor debaixo de um cinto
no fim de um show em detroit
quando na verdade era melhor
ter eu mesmo, como um louco,
me matado porque há de se ficar
sem os melhores, que tu sabes,
cohen, dave jones, légua tirana
da extinta moral e cívica do dedo
diante de uma palavra modesta,
tratar o absurdo da perda nobre
de um desaparecido desse corpo,
o grande agudo dessa primeira
ideia de que só se ama o que é
limpo como a coisa que não levo
no bolso porque sou também teu
pai teu irmão tua coisa encalacrada
e somos sem saber nós tão bonitos
e esperamos tua verdade silenciosa
com o peso bochechudo do corpo
na chuva diante de dedos em reza.

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