24.12.16

"poema azul para paul celan"





ao romper do osso,
jaz o equilibrista azulado
com a corda na volta do pescoço.

um pente de areia varre
os ossos velhos rompidos,
entre as unhas sobram
filetes de coisas mortas.

nas papoulas do esquecimento
jaz o homem-tocha, azul.
na peruca das horas
nasce o filho sem olhos.

as sobras do passado
carregamos entre as unhas.

nas cutículas do tempo
carregamos o amor, azulado.

se roemos vorazmente,
osso com osso, unha com dente,
é porque o domador
de leões foi engolido vivo.

o passado desgovernou-se
em presente marinho
e no filete do sangue,
no filho sem horas,
na sobra das unhas,
no tempo dos ossos,
trazemos o amor, azulado.

Um comentário:

Isadora P. disse...

Esse é o meu preferido da última leva!