20.6.15

"mais uma vez"



mais uma vez aqui,
e já há tanto tempo,
na agressividade seca do instante,
no acelerador de partículas da alma,
no refúgio dos corações enferrujados,
nas bolas de fogo dentro dos bolsos,
nos narizes avermelhados de amor e ódio,
nos catarros do receio e da culpa esculpida,
na síndrome das pernas agitadas e da boca
imensa e cheia de tiros trêmulos.

mais uma vez aqui,
e já há tanto tempo,
hóspede na terceira classe
de um trem descarrilado,
robô que foge da chuva,
da chuva ácida de xangai,
mitologias esfareladas
com restos de animais à mesa,
junto apenas na distância
que separa o horizonte
de toda esperança.  

mais uma vez aqui,
e já há tanto tempo,
na vergonha de não conseguir,
na vergonha de seguir tentando
não conseguir para permanecer vivo,
vivos estamos, pensamos todos,
é preciso não conseguir para estar vivo,
é preciso saber sempre pela metade
e da outra fazer o calvário
muitas vezes silencioso e sem músculos,
da doce passagem tumultuosa,
com imensas dificuldades,
por saber muito mais
do que seria bonito saber.

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