31.3.15

"tarde"


começo agora tarde demais,
mas o outono é a estação
que perfura a esperança
e ela tem a morte heroica
das belas damas dos filmes
judeus em cinemascope.

nos filmes em preto e branco,
os ternos me parecem todos
maiores que os atores, as mulheres
são lindas e lembram, em geral,
minha primeira madrasta.

mas é tarde demais sempre
quando começo, esgueirando-me
pelas paredes habitualíssimas
mas que assim reagem, rindo
aos estímulos, elos da cadência,
com generosa vulnerabilidade
e toda uma raspa de espírito,
por que não dizer, decadência
fiel ao sopro da nossa espécie.

por hoje desisto do mote justo,
do amor como nostalgia primata.
ergo-me na beira da uma espécie,
mas começo agora tarde demais.

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