3.1.14

"o mártir"


É Hölderlin refugiando-se
em uma Grécia de sonho
e transfigurando o amor
em embriaguezes mais puras,
nas da irrealidade...
(Emil Cioran)

sobretudo devo admitir
que sofro de uma consciente
falta de informação,
apesar de todas essas cartas,
teses mal ajambradas
sobre o que veio antes e o porvir.

creio não ter meios
para investigar o que me falta
saber para que me seja
possível viver entre humanos.

ou talvez eu tenha,
e isso me assusta ainda mais
e me inclino a pensar
que seja mesmo provável.

um latido manhoso,
é como me comporto
diante de tal quadro.

estico-me até o que veio antes,
encolho-me diante do porvir,
procuro timidamente a fusão.

mas estou cego: o porvir é
a parte encolhida sobre os olhos,
que enxerga em dobras e que
jamais aconteceu, por ter-se
passado, inclusive essas cartas.

então aqui estou eu,
senhor de minha síndrome,
com rédeas em volta do corpo.

não mais o cavaleiro,
mas cavalo, paciente irregular
de uma bruta solicitação.

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