16.9.13

"ainda assim chamaremos"


é preciso causar ainda alguma beleza,
nem que seja o lenço caído no soalho,
ou uma valsa vienense de outrora,
tanto faz se não sabemos seu nome,
ou mesmo se com sede recebemos
o que mais tarde iremos cuspir fora.
é preciso ainda assim alguma beleza,
uma palavra que acalente o coração,
uma revelação diminuta de esperança,
fora das teorias humanas, ó humanos!
fora dos intestinos delgados do inferno,
numa jaula de pétalas, uma luz amarela,
algo no fim de algo que está no seu fim,
porque é acima de tudo agora preciso
causar alguma beleza nem que esteja
no triz que tremeluz pálpebras de aço,
na gota perene que se afoga no umbigo,
um vento no rosto, ainda que marcado
pela areia que escorreu pelo caminho
de outros que passaram e, sem saber,
deixaram restos do que nunca se soube
mas ainda assim chamaremos nossa fé.

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