3.7.13

"seria um santo"


eu sou um escritor, eu não sou um escritor,
sem saber disso não posso nem começar,
mas sabendo disso talvez uma foto
fizesse com que eu me virasse para sempre,
e sem saber disso precisarei cavar,
sabe-se lá com que sangue entre as unhas,
para realizar o fato de que não saber é ser,
no caso de eu ser um escritor,
então se eu realmente não for um escritor,
preciso saber para poder me lançar aos braços de deus,
e que ele me leve de onde me trouxe e me ensine
com pão, pedra, água e algum cheiro bom
os meus erros cometidos quando usei
o focinho em vez da lógica, mas se por acaso
eu for mesmo um escritor, então meus problemas
serão maiores, porque movido pela estupidez
e curiosidade comuns a todo escritor,
negar-me-ia a me deixar abraçar totalmente,
estaria num constante parâmetro de fresta,
fora da consciência ao ponto da dor,
dentro de tudo apenas no momento da surpresa,
e o resto do tempo fora, a ponto de penetrar o indivisível
e no entanto cego, absolutamente dependente
e senhor da minha ruína e falta de compreensão,
porque, doutro modo, não seria escritor, seria um santo.

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