5.7.13

“durante o cerco à casa do governador”
















existe um vazio no meio coletivo e quando percebo isso
é quando me odeio e se me odeio odeio o mundo
e as pessoas do mundo e por isso é lógico eu imagino que
como eu o resto das pessoas faça algo semelhante
mas ao mesmo tempo quanto mais coisas eu fico sabendo
que as pessoas fazem menos eu as vejo semelhantes a mim
e isso faz eu adorar a ideia de concluir finalmente
que sou uma espécie de anjo mau ou diabo coxo e essa besta
ou cachos dourados é triste porque espera por toda
a felicidade e se me perguntarem e por que triste vou dizer
porque falar de ti é a única forma de te ter por perto
e é claro ninguém parece impressionado com isso
porque todos já cantaram em palcos e assobiaram
com as multidões mas eu não me mexo porque sinto
com firmeza que existe um vazio no meio coletivo
e quando abro os olhos sei que minha ardência nos olhos
jamais será coletiva veja bem a ardência é a febre
no intestino e as rajadas de acontecimentos de um showbiz
anunciado pelos que matam e pelos que morrem
num acordo de corda daquelas que as crianças puxam
para ver quem é mais forte onde tudo mais escorrega
à beira-mar na cidade mais odiada linda enevoada
do mundo para fora e cada um é um absurdo em si e todos
sabemos que injetamos muito mais do que vemos
em nossas veias e eu estou aqui expurgando meus pecados
na tela branca devia tomar o hábito de fazer isso
no fim de todo dia isso é claro se todo dia terminasse
como dia – imagino que sim – a ideia é escrever mesmo
os absurdos que cercam a cabeça – sim – vamos tomar
alguma coisa na rua enfrentar os perigos da nova revolução
vamos dar as mãos a desconhecidos que – não se esqueçam –
se odeiam também num grau austero muitas vezes se olham
com o maior desprezo do mundo mas carregam isso
nos olhos e no corpo e o peso é infinito porque é na medida
de deus aquele que nos aleijou com o desejo de algo superior
a nós e além do nosso mal porque temos sósias em toda parte
e sabemos que para nós mesmos dentro de nós é quase
sempre impossível e então como haveria de ser possível
fora de nós e ainda com outras pessoas quase sempre
impossíveis em si mesmas ao nosso lado mesmo assim
que bom que ela se lembra de mim diga a ele que se tornou
um rapaz muito bonito acho que é porque nos conhecemos
há doze anos então achamos que conhecemos de fato algo
sobre nós enquanto na verdade muitas vezes o amor é nada
além de tatear a verdade no escuro – sensacional ideia –
um vampirinho pastor – pense – um pastor eu engoli todos
os impropérios ele tem uma natureza difusa isso assusta
que é um horror então paralisamos e quando paralisamos
é que o horror piora porque precisamos nos mexer já
e já nos acostumamos com a calma de deixar passar
mas um dia resolveremos isso merecemos uma alegria
você não pensa em deus de vez em quando já que falou
na alegria que não temos e na alegria de que precisamos?
penso em algo que não tem esse nome mas está por aí.



Um comentário:

Anônimo disse...

seu protesto poético. bjs.
Mary