23.7.13

"a frente polar"


é chegada a frente polar enquanto jovens destemidos
aumentam estatísticas oficiais e algo soca para a proa
o futuro de minhas células, o frio entra pela fresta
da janela e eu já não sei, estou desfazendo a mesa
parca e olhando para os farelos no chão machucado,
ela se arruma para ir embora e não me reconhece
e me dá impressão de que logo será a Sibéria,
estamos vivos porque ainda nos assustam
as lágrimas que escorrem de nossos olhos
abertos e cansados e sem saber o que mais olhar,
estão flácidos os corpos, arrastados pelo chão
com máscaras medievais, há risadas murchas
com bocas para baixo no eterno sono da bondade,
espreme-se em meu peito a violência infligida
durante a viagem cega, nunca percebi que na força
contrária às estatísticas estaria também o engano
da supervalorização do que em mim seríamos nós,
metades arrastadas pelo chão em brasa dos últimos
acontecimentos, votos de esperança, mensagem
à magnífica acolhida cristã, pelas ruas o sangue
dos ungidos atua conforme mandam as escrituras
e eles tombam valentes por uma causa cooptada,
enquanto separo a louça e sinto um frio nas ideias,
porque agora ela se foi e era tudo o que me faltava ir.