29.12.12

"escrevo agora como quem me dá a mão"




aqui te embalo para sempre em meus sonhos,
a ti, o próprio, fruto de todo prazer indubitável,
a quem ferimos com nomes e histórias de famílias,
mas que está aqui e agora, ainda circulando em peixe
dentro das veias e da pulsação que nos levará à morte,
e estar diante desta inafiançável situação é também
uma fonte de contrapor a essa pobre velha cansada,
a morte, e que respeito tenho por ti, ó morte, agora,
quando me faltam as veias e as batidas do coração,
como à velha mãe faltaram na hora do enterro cego,
é você que guia os passos que não damos, a dor
que sentimos enquanto dizemos “sou eu que sinto”,
mas é mais que outra coisa, é mais que tudo isso,
e seria tão só você pudesse esta mesma coisa louca:
estar ao menos bem vestida quando me cuspisse
seus tenebrosos decassílabos, além do que odeio
o cheiro do seu caviar russo, e antecipo suas cáries.

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