6.8.12

"ode à página"


não temos sido amigos, nem ao menos amigáveis.
nos despedimos regularmente, mas sem nobreza.
diria até que nos despedimos com certa rispidez.

quando faço por acaso bom uso da tua matéria
fico eufórico, te deixo de lado, nem me despeço
e me lanço vesgo à embriaguez e falo, falo muito.

isso já vai mal, já vai muito mal e é impossível.

você sabe que preciso de você e que só em você
posso existir e só em você eu sou eu, só em você
garanto um instante entre os deuses e se te odeio
é porque você me assusta, você detém todo poder.

embriago-me, portanto, quando sinto que te venço,
mas é justamente quando te venço, e ao te expulsar
a hora errada de saber que levará um longo tempo.

aceite meu ódio e pavor como forma de respeito.

o que se odeia é a que indubitavelmente se pertence
e você é a minha granada silenciosa dentro de mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

CA-RA-LHOOOOO!!! Fiquei sufocada. Bjs.
Mary