2.4.12

“não posso dizer a palavra”

você tem sempre mais vinho e mais cigarros
do que eu e eu fico pensando que isso talvez
seja um parâmetro do nosso não posso dizer a palavra
combinamos de não dizer a palavra
mas você ter sempre mais enquanto eu fico
aqui sugando guimbas usadas e lambendo bordas
de garrafas e escrevendo odes em sangue para ti é sinal
de alguma coisa de alguma saga mitológica
de algum desafio em busca do cálice sagrado mas você
é uma dama como poucas mexe nos cabelos
de modo que parece sempre uma pessoa nova e tem ainda
seus famosos três níveis de risada que eu busco analisar
com piadas infames porque no fundo sou um palhaço triste
e falamos sobre filosofia germânica mas meu deus
esses homens eram tão amargurados e falavam
sobre o estar-aí mas eles nunca estiveram de fato
em parte alguma meu não posso dizer a palavra
e nós estamos aqui exatamente aqui e não é justo
que eu chore feito um idiota murmurando por que não podemos
simplesmente nos não posso dizer nem mesmo o verbo
e ver o brilho num relance mágico e não é justo
que depois desse dramalhão de quinta eu ainda durma
no teu colo porque eu não quero dizer adeus eu quero dormir
para sempre no teu colo e quero que você embale
os meus pesadelos mais íntimos porque com sua longa e bela
mão magra eu posso enfrentá-los como um templário
e quero que você um dia escreva não para autômatos
de chapéu-coco mas para mim que não tenho ainda
máquina própria e diga num poema oh meu cigano
oh meu cavaleiro prateado e eu quero poder eu quero
poder desejar te **** porque quanto a isso estamos de acordo
que é possível e você tem razão isso não é **** é apenas
uma lágrima muito antiga
sobre uma cidade bombardeada por flores sem pétalas.

Nenhum comentário: