22.4.12

"de onde vem"

porque tudo isso é muito
mais um asco moderado,
um fermento leporino
para inchar de antagonismos
o dormir e o permanecer.

não passa do estômago,
manter por lá o quanto puder.
de lá para a privada,
ainda que seja
uma privada divina.

enquanto injetarem-se
os olhos ainda vacilantes
andarás, não sentirás, mas
verás como te observam
meneando as cabeças nas ruas
e saberás: ainda sou veloz.

e quando souberes: permaneces,
haverá de acontecer algo,
terás de fazer algo, pois que
permanecer é fazer algo,
e miseravelmente estarás pequeno
diante de um imenso portão;
e cairás de joelhos.

se tiveres fossa de escoamento
despejar, não sem elegância,
mesclar um novo sofrimento;
entenderás enfim que não precisas
mesclar nada: está tudo aí.

nas dobras dos teus erros,
na casa compartilhada,
nos abusos do teu coração,
na força em aproximar,
no lençol de realejos;
está sobretudo nos restos
do êxodo que não partilhaste.

as contas dificultam o trajeto.
sem contar, morrerás logo.
mas és de qualquer forma um vivo-
morto, pois nutres no estômago
mortes insuperáveis e deságuas
farpas como fossem marfim.

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