22.7.10

"não serei"

não serei um senador de modos elegantes ao jantar,
que no jardim enterra os medos, as ilusões antigas,
não serei o vagabundo riquinho que bate pega e mata
o rapaz de classe média que andava de skate no túnel
e que talvez, por mais duro que seja, estivesse mesmo
esperando pela morte bruta com a força dos metais,
mas não serei nem ele, o regurgitador de ferro e aço,
nem bem serei a pálida criatura que cultiva olheiras,
nem o parasita pródigo, mas um pouco serei o parasita,
serei também ondas curtas de paixão, das que inspiram
o passado brasa-mora e a cultura iê-iê-iê, essa gentalha
que não sabe como é duro sobreviver do próprio vício
de não ser e não ser e não ser e no fim não ter forma,
nem garota preciosa, nem ginga de bibelô, rebolar
é para os que desviam dessa frágil grandeza estéril,
desse bater de frente com o ridículo da auto-aceitação.

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