28.4.10

"rimbaud"


a criança podia apenas acreditar
nos órfãos e nos seres selvagens.
“Napoleão III merece a navalha”,
você gritava nos bares, agarrado
ao professor pederasta que dava
livros impróprios à criança rude:
Rabellais, Villon, Hugo, margem
que te daria o inferno exemplar.
todos no vilarejo te reconheciam
pelo riso fino e as mãos operárias,
o lábio semi-leporino, e as novas
pretensões ruminantes de sentido.
hoje sabemos apenas dos cabelos,
dos teus braços curtos para flores,
mas acima de tudo os teus cabelos
formados pelo ar gelado da longa
partida sem volta que melhor seria
perder de uma vez a perna, rasgar
de cabo a rabo o senso de perigo,
coisa que dói o estômago e incha
os olhos deslumbrados, sensação
aterradora de liberdade, quando,
firmes, as mãos nos bolsos vazios
nos levam facilmente até o cume,
onde viramos adultos e morremos.

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