12.11.09

"feito máquina"

para Olivetti

então escrever sobre uma máquina de escrever,
uma que seja ao mesmo tempo ágil e calma,
que fira ou seja ao menos capaz de ferir mortalmente
e, de repente, desmanche em equívocos sutis
um pouco do resquício do que sobrou da fantasia.
mas agora não é tempo de pedir desculpas.
isso aqui, afinal, é uma máquina cruel e limpa,
talvez pare de repente, não sei, talvez a tinta
falte antes de se dar por sepultada a inocência.

ah como perdemos, como perdemos todos os dias!
mas não devemos admitir, admitir, isso jamais,
porque somos máquinas de escrever e escrevemos
apenas sobre uma máquina de escrever, uma velha
que nos trará do longo suicídio diário de volta
para onde criamos uma vez a falha toda nossa
pela qual ainda corríamos, loucos, pelas ruas,
incríveis ruas que um dia nos deram o longo aviso
enquanto caíamos de quatro diante de possibilidades
remotas e conclusivas sobre o que, enfim, ficaria
melhor assim, sob aviso, perene, feito máquina.

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