26.3.08

"vincent"


o que não se funde não fere
a massa de tinta nos sonhos,
a ponte levadiça dos prismas.

tua arte foi teu pavor químico
de alcançar o ponto mais cego
no cerne da dor e da aceitação.

demônios decalcados no grito da noite,
tua loucura foi por excesso de bondade.

o mundo teve medo da tua alma amarela,
dos comedores de batata na escuridão,
das lâminas e das lágrimas de absinto,
do teu amor derretido na pele da luz.

tua idéia de arte funciona apenas nos
cérebros ébrios, do contrário mortos.
quando um sóbrio fala em ti ele viola
a saliva sobre tuas telas regurgitadas.

a vida é apenas uma palheta de cores,
a justiça dos homens, pincel quebrado.
“a tristeza durará para sempre”, tu
disseste a Theo com corvos nos olhos.

demônios decalcados no risco de sangue,
teu corpo insepulto é a lira dos mortos.

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