28.10.07

“O momento mágico”

Sim, apenas pela sensação fugaz das linhas se fazendo. Sim, por uma bobagem, pelo espaço preenchido por qualquer bobagem. Por cataratas de bocas se abrindo e se fechando. Pela bobagem singela de um sorriso sem razão. Pela loucura liquefeita nos espaços entre as folhas de um eterno clima outonal. Sim, pela emoção fragmentada de gritos enxertados. Aquele espaço sempre quase mudo, a ponto de se realizar, se afastando. Aquele ranço entre o silêncio idealista e a solidão tácita. Existe talvez quem sabe um “não basta”, não basta apenas garantir uma sabedoria, porque no fim se perde e se nega, mas quem saberá realmente o que um dia chamou-se ingenuidade ou força de espírito? E onde estará em mim o amor de que preciso? Porque é preciso achar, sim, talvez apenas para ver a beleza das linhas se fazendo. Talvez apenas por uma bobagem. Sim, por uma bobagem. Só por causa de um rombo incômodo que repartimos em silêncio aos risos debaixo da fumaça dos cafés de filmes aos quais jamais assistimos, mas com cujas atrizes aprendemos a nos masturbar. Os sonhadores foram banidos para a obscuridade. O tempo é um constante dizer não ao convite de deus e, sim, é preciso ter de volta. O espirro inconseqüente de quem se arrepende da luta e cai, agora sem braços, criando suspiros ordinários de repente remetido ao movimento reacionário de um tempo ainda desconhecido, onipresente, sem saída.

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