6.6.07

"mais um cartão-postal"


você estava lá: poeta cânone.
assustado, todo em bronze,
ainda sem compreender.

pessoas tiravam retratos,
faziam fila para lhe ver.
pessoas brigavam entre si
- sim, elas gritavam -
faziam uma barulheira incrível.
acredite, poeta: estavam felizes.

elas que não tem uma estátua à beira-mar.
elas que não conhecem o amor da recusa.
elas que não sentem as dores do mundo.
estavam felizes, poeta, acredite.

e você como sempre tão carrancudo,
ou como você mesmo diria: sorumbático.
você com a eternidade debaixo do braço,
continuava triste e tranqüilo em bronze
ainda assustado, sem compreender.

no meio do caminho sem nenhuma pedra
a multidão acavalada punha os olhos.
uma criança gorda olhou para mim:
"quem é esse velho careca?"
e a mãe de bate-pronto disse assim:
"não sei, mas deve ser poeta".

o mais importante era a pressa.
o vento firme cortava as faces,
e você ainda quente, cansado,
com sua estimada testa vasta,
feito de bronze gasto, anônimo,
enquanto as hordas iam e vinham
para tirar retratos, ler seu nome.

mais um cartão-postal da cidade,
cidade essa que, você bem sabe,
pertence bem mais aos pombos.

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