22.12.06

“cê caê caô”

cantava-se em coro, meninas in vitro:

“odeeeeeeeio você!”

viam-se os tímpanos, manifestação costeleta.

“não, não sei, não odeio, não se diz isso, não em música...”

“mas Caetano...”

“ele devia amar!”

mais de mil olhos de fogo com lanças para cima:

“odeeeeeeeio você!”

quando o assunto escorre e a pessoa é querida, somos como adolescentes antes da ferida – depois? – vamos conversar como cidadãos inaptos e sensíveis, mas conversar sobre o quê?

“oi” – olha para um, cumprimenta outro – “eu detesto (outra pessoa com olhos) gente arrogante”.

“sei...”

“você gosta?”

“de quê?”

“gente arrogante...”

“sou neutro”.

“como, neutro?”

“gente arrogante o tempo todo, você também, eu, todo mundo... eu penso: perdi a vontade”.

“então você é mais evoluído”.

você é”.

“quando o Caetano canta que odeia alguém como refrão, ele quer só esvaziar”.

“uma coisa é o Caetano esvaziar...”

“sim”.

“outra coisa sou eu te odiar... isso enche”.

“é brincadeira... metáfora moderna”.

“me preocupa o fato de eu não conseguir mais detestar a arrogância. acho que minha arrogância chegou a esse ponto”.

“odeeeeeeeio você!”

sobe som. morrem todos, não de amor.

Um comentário:

Anônimo disse...

é, muitas consoantes e poucas vogais. quanto mais difícil melhor. e o pior é que essa é a música do cd que mais gosto. para mim o caetano cantar odeio você foi só um gesto de liberdade, libertação. ele tava pensando em alguém sim, na horinha que compôs, cantar "odeio você" é um processo catartico, uma postura anti-social. o que o público entende disso eu não sei. sei que esse tal de público estragou o meu show.