15.10.06

“homem sentado na varanda de um bar”

que coisas bem sérias
são as mulheres cabisbaixas
que, baixas, recebem
todo o valor de um sonho salto
alto desvalorizado por olhos dentes
de um sujeito qualquer indecente
que apenas, sensível
em gritos silenciosos
espera o momento exato
de sair intacto, apaixonado
por um mundo vazio de lábios
ou membros dormentes despudorados
que, súbito, se enchem de artérias
como braços negros acorrentados
por dentro das calças sem saber como
nos sonhos de uma calçada perfis
confundem a silhueta da tarde
com a vontade que morde e arde.
elas são bem mais que Josefinas,
muito mais que sombras concretas.

Perséfones natimortas, almas de mármore,
elas são rastros num labirinto de olhares,
cisnes uterinos de lágrimas latentes
e nós, à mercê de quantos nós
o álcool fez em nossas mentes,
pobres mendigos depravados
disfarçados por sorrisos
mais antigos do que bocas,
também sem pés nem cabeças
conforme o pensamento cujos
calcanhares se entregam à gagueira
mas, pobres de nós, olhos puros de
sentimentos espremidos em calos
que, de gole em gole, morremos
e nunca recebemos o direito vago
de nos escondermos em sonhos
ou na indiferença superior
daqueles significados mudos
que passam sem dizer adeus
nas barras das saias dos anos.

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