26.7.06

"roçam-se os pés”

acho que
todo mundo
um pouco
no fundo
sem saber
quer o amor
que é o fruto
de outro sigilo
secreto sepulcro
mal-estar no outro
sem saber que quer
mesmo sem dúvida
um canto de vírgula
que sirva de túnica
às tardes esquecidas
que curam e ardem
nas noites sem lua
nuas como aquela
silhueta sem foco
que falta na cama
ao lado do cheiro
do beijo de olhos
do fim de semana
herança das traças.

agora é tarde e frio
os cílios se dobram
e existe certo vazio
que só preenchemos
com calor hesitante
e os pés enlaçados
carregam o instante
gelado com gelado
é igual a dois lados
para sempre sólidos
inquebrantáveis que
quando perfuram poros
marcam nossa distância
com hematomas lilases
como flores de inverno
na estampa do lençol.

mas bem lá no fundo
quando a luz falece
todos nós esperamos
alguém que nos ame
como se não soubesse

Um comentário:

Garota do outro lado da rua disse...

também tenho pensado nisso...

bonito texto...