19.7.06

“cama vazia”

lençóis como paisagens
de falésias subterrâneas
bordadas pela infância
de pedaços de unha com
um pouco de afeto socados
num baú cobrem a falência
com poeira de caspas órfãs
compartilhadas no escuro
por duas singelas figuras
que nunca se encontraram
porque não sabem como ver
de perto porque não podem
fingir que entendem dentro:
o lado vazio que cada um
guarda consigo como relíquia
na tentativa de um abajur que
confunda carneirinhos internos
infundados em pó de vidro e
marcas de travesseiro sobre
um útero reservado a sonhos
liquefeitos nas veias verdes
da solidão muito lisonjeira
vestida num terno cinza
com um charuto na boca
fazendo bolas de fumaça
de sonhos sem referência
no canto vazio da cama.

Um comentário:

Anônimo disse...

... que triste! A corda esta bem sugestiva, saudades ...