24.6.06

"cão"

um cachorro preto se aproxima de mim agora,
enquanto penso palavras bonitas para a morte.
ele tem nos olhos uma camada espessa e lacrimosa
e olha para mim como se também não fizesse idéia
de que palavras.

senta-se ao meu lado e,
sem dizer nada,
nos encostamos em pêlo.

então eu penso,
enquanto olho sua cara preta fiel:
para que servem todas as teorias,
os gritos de coletividade por causas,
caminhos para uma salvação medrosa,
para que todo esse falatório de tias,
se no final do dia
apenas um cão,
sem dizer nada,
é tudo que eu espero
de toda a humanidade?

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