4.4.06

"sol que arde feito peito com medo da carne"

agora é manhã
tarde e sempre
que se amanhã
a noite se atrasa
se amanhã o mar
se amansa é que
enquanto há manhã
que se saiba manhã
há mar.

será o fim da velha fornalha
que me entorna de vésperas
na hora magra do perímetro
da paz tardia do dia da minha
derrota final para o rol do sol
que castiga feito papilas de sal
a despeito do que sinto dentro
do fosso oculto do teu centro:
pretensos braços rarefeitos
feitos de formol.

teu silêncio amarelo
meu elo
deflora meu cerne
teu gelo
abre passagem
e entra.

forja meus gritos com tua fibrose
tímida poeira em olhos de vidro
dívida de tripas com tua mentira
mágica celofane inútil que mata
depravada língua de fogo na pele
porque me aceita sem margem
pela janela.

mas meu peito tem um defeito:
é feito de carne e não de idéias.

a carne consome o tempo refeito
que passa em alarde e quem sabe
as idéias não ganham meu corpo
com gosto se gosto de ti do jeito
que és luz sol sem foco nem feixe
simples final vermelho que tendo
a cor da minha carne rançosa
sem demora tem também
seu fim.

mas meu peito tem um defeito:
é feito de carne e não de idéias.

assim como o sol que a manhã
anuncia meu cedo demais para
culpa sepulcral de fogo no olho
que aponta para a terra inculta
que agora me tarda a manhã
que arde como a carne que
(como a carne do meu peito)
nem sempre que se queima
é uma questão de escolha:
às vezes queima
de medo.

Nenhum comentário: